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O Meio é a Mensagem
Marshall McLuhan
extraído do livro: Os meios de comunicação como extensões do homem (understanding media)


 

(...)

O meio é a mensagem porque é o meio que configura e controla a proporção e a forma das ações e associações humanas. O conteúdo ou usos desses meios são tão diversos quão ineficazes na estruturação da forma das associações humanas. Na verdade não deixa de ser bastante típico que o “conteúdo” de qualquer meio nos cegue para a natureza desse mesmo meio.

(...)

Alexis de Tocqueville foi o primeiro a dominar a gramática da imprensa e da tipografia. Capacitou-se assim a decifrar a mensagem das mudanças iminentes na França e na América, como se estivesse lendo em voz alta um texto que lhe tivessem passado às mãos. De fato, o século XIX, na França e na América, se apresentava como um livro aberto a Tocqueville, pois havia aprendido a gramática da imprensa. E sabia também quando a gramática não funcionava. (...) De Tocqueville era um aristocrata altamente letrado, mas perfeitamente capaz de desligar-se de valores e pressupostos da tipografia. E é somente assim, permanecendo à margem de qualquer estrutura ou meio, que os seus princípios e linhas de força podem ser percebidos. Pois os meios têm o poder de impor seus pressupostos e sua própria adoção aos incautos. A predição e o controle consistem em evitar este estado subliminar de transe narcísico.

(...)

O homem de uma sociedade letrada e homogeneizada já não é sensível à diversa e descontínua vida das formas. Ele adquire a ilusão da terceira dimensão e do “ponto de vista pessoal”como parte de sua fixação narcísica, excluindo-se assim da consciência de um Blake ou do Salmista, para os quais nós nos transformamos naquilo que contemplamos.

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As reservas espirituais e culturais que os povos orientais possam ter em relação à nossa tecnologia não lhes poderão valer muito. Os efeitos da tecnologia não ocorrem aos níveis das opiniões e dos conceitos: eles se manifestam nas relações entre os sentidos e nas estruturas da percepção, num passo firme e sem qualquer resistência. O artista sério é a única pessoa capaz de enfrentar, impune, a tecnologia, justamente porque ele é um perito nas mudanças de percepção.

(...)

Hoje , se quisermos estabelecer os marcos de nossa própria cultura, permanecendo à margem das tendências e pressões exercidas por qualquer forma técnica de expressão humana, basta que visitemos uma sociedade onde uma certa forma particular ainda não foi sentida ou um período histórico onde ela ainda era desconhecida. O Prof. Wilbur Schram efetuou essa manobra tácita, ao estudar a Television in the Lives of our Children (“A Televisão na Vida de Nossas Crianças”). Encontrou áreas onde a televisão ainda não havia penetrado o suficiente e efetuou alguns testes. Como não havia feito nenhum estudo sobre a natureza especifica da imagem televisiva, seus testes versaram sobre preferências de “conteúdo”, tempo de exposição ao vídeo e levantamentos de vocabulário. Numa palavra, sua abordagem do problema foi puramente literária, embora inconsciente. Em conseqüência, não teve nada a relatar. (...) A Análise de programas e “conteúdos” não oferece pistas para a magia desses meios ou sua carga subliminar.

(...)

O Papa Pio XII preocupava-se profundamente com o desenvolvimento de estudos sérios sobre os atuais meios de comunicação. Dizia ele, em 17 de fevereiro de 1950:

“Não é um exagero dizer-se que o futuro da sociedade moderna, bem como da estabilidade de sua vida interior, dependem em grande parte da manutenção de um equilíbrio entre a força das técnicas de comunicação e a capacidade de reação do indivíduo.”

Durante séculos, o fracasso da Humanidade a esse respeito tem sido característico e total. A aceitação dócil e subliminar do impacto causado pelos meios transformou-os em prisões sem muros para seus usuários.

(...)

 



"Para a nova era dessa civilização que está indiscutìvelmente a anunciar-se, ler e procurar penetrar o difícil, novo e original pensamento de McLuhan não é apenas um raro e alto prazer, mas dever e necessidade de cada um de nós que sofremos as perplexidades e incertezas da imensa transição."
(Anísio Teixeira)

Veja dois textos do Educador Brasileiro Anísio Teixeria sobre o pensamento de McLuhan:
Apresentação do livro "A Galáxia de Gutenberg"
O Pensamento Precursor de McLuhan


 



 

 

 


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