Etanol Brasileiro: Uma História de Sobrevivência
Por Edson Paulo de Carvalho Junior
A primeira e mais importante atividade econômica do Brasil, iniciada pelos portugueses por volta do século XVI, foi a agroindústria da cana-de-açúcar sendo a mais lucrativa da colônia (Brasil) até o início do século XVII. A partir do século XX os antigos engenhos foram transformados em usinas de cana de açúcar, porém a falta de estrutura e a carência de pessoal experiente para exportar e participar no mercado internacional fez com que se mantivessem voltados ao abastecimento do mercado interno. A única exportação existente partia do excedente doméstico e ainda assim pouco lucrativa.
A partir da década de 50 o setor açucareiro regional no Brasil começou a sofrer alterações e melhoras econômicas, mas o grande avanço foi na década de 60 quando o mercado internacional demandava produtos provenientes da cana-de-açúcar e se manteve bem até os anos 70. Além disso, foi em meados dos anos 70 que ocorreu a primeira grande crise do petróleo em todo o mundo. No Brasil as consequências também grandes, como por exemplo a baixa nas exportações e a falta de créditos internacionais. Com o intuito de corrigir esse quadro situacional o governo brasileiro tomou algumas medidas internas tendo como objetivo reverter o processo de desenvolvimento nacional que atualmente estava voltado para a dependência externa.
O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) foi um dos projetos apresentados pelo governo como uma das medidas a seguir, além disso, também promoveu a prospecção e exploração do petróleo nacional. O Proálcool foi instituído pelo Decreto Nº 76.593 de 14 de novembro de 1975 tendo como finalidade a produção e expansão nacional do álcool etílico anidro viável como matéria-prima para as indústrias químicas e também como combustível a ser adicionado à gasolina diminuindo assim parte da necessidade do petróleo. Além do Proálcool houve uma tentativa de aplicar mais dois projetos que não tiveram êxito. O Proóleo, onde se planeava a produção de azeite vegetal para ser usado em combustíveis a diesel e o Procarvão onde o objetivo era produzir a energia dos carros através do carvão.
Foram destinados grandes investimentos públicos e privados para o Proálcool, sempre apoiados pelo Banco Mundial, ocasionando um crescimento considerável na produção do álcool no Brasil. A partir dos anos 80 o governo brasileiro deu marcha à segunda fase do programa provocada pela segunda crise do petróleo. Especificamente, na segunda fase, o Conselho de Desenvolvimento Econômico do Brasil priorizou os investimentos para a produção dos carros movidos somente a álcool, gerando melhorias nos tanques e motores dos automóveis.
De acordo com alguns autores, o ano de 1985 foi o marco final do Proálcool tendo como fator principal a diminuição da dependência externa do petróleo gerada pelo aumento da produção nacional (Petrobrás), além disso, os projetos prioritários do governo era para controlar a inflação e o déficit público.
Tecnologia Brasileira do Bicombustível
Os carros bicombustíveis, também chamados Flex Fuel (combustível flexível), são os que trabalham com gasolina, etanol (a base de milho ou cana de açúcar), ou a mescla destes dois combustíveis. Os estudos deste tema tiveram início nos anos 80 nos EUA, Japão e Europa. Em 1992 a General Motors coloca no mercado norte-americano (EUA) o primeiro carro bicombustível.
No Brasil, os estudos pioneiros para a introdução desta tecnologia foram feitos pela Bosh, no ano de 1994, seguidos pela Magnetti Mareli. O objetivo era substituir os carros movidos exclusivamente a álcool no país pelos bicombustíveis. A Wolkswagen foi a primeira a lançar o carro bicombustível no Brasil com o modelo Gol Total Flex, em março de 2003.
Todos os projetos e estudos desenvolvidos, assim como todas as fases por qual passou transformaram o Brasil em um país com uma grande competitividade no tema dos carros Flex Fuel. O Brasil hoje é dono de um know-how importante para seu avanço, crescimento e desenvolvimento comercial internacional.
O interesse europeu e asiático já é uma realidade e diversos acordos estão sendo realizados entre o governo brasileiro e os países membros destes dois grandes continentes. A principal razão surgiu da preocupação com o meio ambiente, do Protocolo de Kyoto e das novas metas estipuladas por estes países para a diminuição da emissão de CO2. O petróleo é uma fonte de energia esgotável, cara e poluidora, em contrapartida, o etanol da cana-de-açúcar tem um ciclo de produção sustentável e a poluição gerada é totalmente absorvida no processo de fotossíntese da própria plantação de cana-de-açúcar.
O Brasil tem hoje a oportunidade de avançar e se desenvolver sócio-economicamente, para isso é preciso estabelecer acordos multilaterais que priorizem os ganhos de ambos os lados e que levem em conta a sociedade em geral tendo o cuidado de não transformar essa nova fase em pura e única geração de dinheiro.
Sobre o autor:
Mestrando em Direção e Gestão de Negócios pela Universidad Autónoma de
Barcelona – UAB;
Especialista em Direitos Humanos pela Universidade de
Coimbra;
Bacharel em Marketing e Propaganda pela Universidade Norte do Paraná
– UNOPAR.
trabalho de historia