Antes de discutirmos algumas questões que nos parecem significativas sobre aspectos epistemológicos do modelo griceano, cabe assinalar que sua teoria, desde que surgiu, tem recebido a atenção dos melhores especialistas em lingüística, filosofia da linguagem, filosofia da lógica, o que já o torna digna do maior respeito teórico. O nosso propósito, entretanto, não é defender a posição griceana, mas examiná-la em sua propriedade de sistematizar fenômenos ligados à significação, bem como verificar-lhe o rigor lógico e capacidade de aplicação a enunciados da linguagem natural.
Discutiremos, nesse tópico, algumas idéias mais significativas que se destacam nos textos sobre o trabalho de Grice.
Levinson (1983) dedica um longo capítulo à noção de implicatura conversacional, sistematizando o seu alcance teórico bem como seus limites e problemas como constructo dentro do modelo griceano1. Ao introduzir esse conceito, Levinson destaca as seguintes propriedades:
a) Capacidade de explanação pragmática para fenômenos lingüísticos
Refere-se aqui, ao fato de que o conceito de implicatura conversacional permite explicar a relação entre fenômenos lingüísticos e regras de conversação.
1) (A) - Você gosta de futebol?
(B) - No domingo, não tiro o rádio do ouvido.
É através do conceito de implicatura conversacional que entendemos como (A) compreende (B), embora o enunciado de (B) pareça fugir da pergunta de (A).
b) Capacidade de explicar como um enunciado significa mais do que aquilo que efetivamente diz
Como se sabe, a noção de implicatura conversacional é capaz de fornecer uma explicação para o fato de que o falante transmite algo para o ouvinte além do que contém o sentido convencional das palavras de seu enunciado.
2)(A) - Você me acha bonita?
(B) - Bem, eu sou apaixonado por você.
(B) "diz" que tem paixão por (A), e sua resposta, na relação coma pergunta de (A), implica que o seu "sim" é óbvio, já que (A) deve saber que os apaixonados acham o objeto da paixão bonito.
c) Capacidade de simplificar a estrutura e o conteúdo das descrições semânticas
Aqui, o conceito de implicatura pode ser utilizado para evitar que a semântica tenha que admitir a proliferação de sentidos para itens lexicais cuja significação muda com o contexto. O conetivo "e" serve como bom exemplo. Nas frases
3) João sacou do revolver e atirou em Pedro.
4) João é brasileiro e trabalha num banco.
o conetivo "e" apresenta um comportamento diferente:
(3) e = e então
(4) e = &
Na primeira frase, o conetivo "e" significa "e então " , ou seja, determina a seqüência na ordem dada. Não seria possível João atirou em Pedro e sacou o revolver. Na segunda, o "e" tem o significado do conetivo lógico. Considerando-se o conceito de implicatura, não há necessidade de se enumerar todos os sentidos de um item, nem mesmo de se admitir que a língua é um jogo em que cada enunciado determina uma situação semântica. Poder-se-ia tratar o problema em termos de um sentido básico e um conjunto de implicaturas.
d) Capacidade de explicar os mecanismos pragmáticos que surgem pelo uso de partículas com "bem", "mesmo","até",...
5) Até a polícia fugiu.
Aqui, a partícula "até" implica que "outros fugiram" e que "a polícia seria a última a fugir"
e) Capacidade de explicar contradições e tautologias
6) João trabalhou toda tarde mas eu não sei se ele trabalhou.
7) Crianças são crianças.
A frase (6) parece contraditória à medida que, se eu afirmo que João trabalhou toda a tarde é porque eu sei que ele trabalhou toda a tarde e, portanto, eu não posso afirmar, ao mesmo tempo, que não sei. Ocorre, no acaso, que eu posso estar implicando que consta que ele trabalhou, mas eu ainda estou em dúvida, tendo em vista a raridade do fato. Na (7) eu afirmo uma tautologia para implicar que as crianças têm propriedades típicas que não devem ser vistas como surpreendentes.
Um outro aspecto importante, para Levinson, é a determinação do nível lingüístico de que partem as implicaturas. Seriam elas derivadas da estrutura de superfície, da representação semântica ou das condições - de -verdade.
8) "Talvez (p)"
9) "Pode ser que (p)"
10) "Possivelmente (p)"
(8), (9) e (10) possuem uma mesma implicatura, no caso, possivelmente ~p e, no entanto, possuem estruturas de superfície diferentes. Isso nos leva a crer que não é de estruturas de superfície que as implicaturas se derivam. Também não surgem das condições-de-verdade exclusivamente, embora estas condições sejam consideradas.
11) Isto está feito.
12) Isto está feito e, se está feito, está feito
(11) e (12) mostram as mesmas condições-de-verdade, mas somente (12) implica "não adianta lamentar". Além disso, as tautologias, que são necessariamente verdadeiras, possuem as mesmas condições-de-verdade , mas , nem por isso, possuem as mesmas implicaturas.
13) Guerra é guerra.
14) O triângulo tem três lados.
exemplificam o raciocínio feito.
Dessa forma, Levinson defende a hipótese de que as implicaturas são derivadas da representação semântica junto com as condições-de- verdade.2 O caso clássico da ambigüidade provocada pela negação (scope-ambigüity) demonstra a sensibilidade das implicaturas à forma lógica ou representação semântica.
15) Todos os meninos receberam o prêmio.
a negação
16) Todos os meninos não receberam o prêmio.
é ambígua, pois expressa dois sentidos demonstrados pelas seguintes formas lógicas:
17) ~(" x ( M (x) ® receberam(x, o prêmio))), ou seja,
não é o caso que para todo x, se x é um menino, então x recebeu o prêmio.
18) " x( M (x) ® ~ (recebeu x, o prêmio))), ou seja,
Para todo x, se x é um menino, então não é o caso que x recebeu o prêmio.
Com relação as implicaturas, (17) implica alguns dos meninos receberam o prêmio já que sua forma lógica é do tipo "nem todos os As são B", o que não ocorre com (18) que significa nenhum dos meninos recebeu o prêmio e, portanto, não pode ter a mesma implicatura.
Duas submáximas de modo, "seja breve" e "seja ordenado" são obviamente, exceções, porque se referem, diretamente, à estrutura de superfície.
O texto de Levinson, um dos mais exaustivos sobre a teoria de Grice, não apresenta propostas teóricas novas sobre implicaturas. Seu mérito consiste em ser bastante detalhado não só na explicação da teoria original bem como na referência feita a todos os outros textos sobre a teoria de Grice que podem ter maior significação. Sua contribuição mais original é a aplicação do modelo griceano na análise da metáfora como um caso de extrema exploração ou quebra de máximas.3
Uma das críticas mais radicais feitas à noção de implicatura, parte de Sadock (1978). Em seu artigo "On testing for Conversational Implicature", Sadock ataca, mais especificamente, os textos que Grice sugere como instrumentos de identificação de implicaturas.4
Para Sadock, somente três, das seis características atribuídas por Grice às implicauras, são razoáveis como testes práticos: a calculabilidade, a cancelabilidade e a não-separabilidade. A característica da não-convencionalidade, para Sadock, é completamente circular como teste, à medida que as implicaturas são não-convencionais por definição. O critério que define a implicatura conversacional como não veiculada pelo dito é, para ele, apenas uma versão da anterior. Como teste, não tem valor, uma vez que seria necessário conhecer a solução para o problema, antecipadamente, o que tornaria o teste irrelevante. O critério da indeterminação também é fraco, para Sadock, à medida que algumas implicaturas conversacionais são totalmente determinadas. Além disso, se a referência é parte do sentido, o que é dito mediante pronomes definidos ou demonstrativos também é indeterminado.Com relação à propriedade que define a implicatura conversacional como calculável, a crítica de Sadock prende-se ao fato de que esta é, realmente, uma condição necessária mas não suficiente. Isto significa que uma implicatura deverá ser sempre calculável mas não basta ser calculável para ser implicatura . O princípio da cooperação poderá permitir o cálculo de certas implicaturas que não sejam obrigatoriamente conversacionais. O caráter de não-separabilidade também não é suficiente de acordo com o texto de Sadock, tendo em vista que não permite distinguir implicaturas conversacionais de acarretamento lógicos ou de implicaturas convencionais, em muitos casos. É preciso ainda, que não há paráfrase perfeita, ou seja, sinônimos exatos. De qualquer maneira, o simples fato de que é difícil dizer se duas expressões têm o mesmo significado, já se torna o teste da não-separabilidade de pouco uso na prática.
A cancelabilidade é o melhor dos testes, na concepção de Sadock. O fato de que o falante pode acrescentar ao seu enunciado elementos que cancelem a implicatura, parece ser um teste seguro para o sistema griceano. Entretanto, há dois problemas com ele. Em primeiro lugar, existem implicaturas conversacionais que não podem ser canceladas. 'Quase p', por exemplo, implica conversacionalmente 'não-p'. Esta implicatura é calculável, não-separável , mas não cancelável. O outro problema diz respeito ao fato de que o teste não permite distinguir casos de ambigüidade de outros com implicaturas unívocas. Isto permite concluir, na observação de Sadock, que a cancelabilidade não é um teste suficiente e pode não ser necessário para as implicaturas conversacionais. Dessa forma, não existiriam testes, nem grupos de testes que juntos pudessem caracterizar implicaturas conversacionais. O grande poder do sistema de Grice permite, justamente, calcular outras inferências que não implicaturas e isso coloca essa tentativa de abordagem pragmática em má situação.
Não resta dúvida de que a crítica de Sadock é consistente ao demonstrar, logicamente, a fragilidade dos testes de Grice. Existe, entretanto, uma outra forma de ver a questão. Em primeiro lugar, o texto de Sadock prende-se, quase que exclusivamente, ao sistema de testagem para o reconhecimento de implicaturas. Não investiga, paralelamente, a competência explicativa do modelo griceano. Significa dizer que recolhe exemplos privilegiados para provar a fragilidade dos testes, sem examiná-los em outros contextos.
Nesse sentido, não apresenta grandes novidades. O próprio Grice (1978), aborda o problema das propriedades das implicaturas e destaca o fato de que elas apresentam um alto grau de não-separabilidade, mas adverte que essa propriedade não é uma condição necessária nem suficiente; primeiro, porque pode depender do modo de expressão e, além disso, porque pode não servir para a distinção, em determinados contextos, entre implicatura e acarretamento.5 No mesmo artigo, Grice observa que ele mencionou alguns traços que podem, efetivamente, permitir o reconhecimento das implicaturas conversacionais no "Logic and Conversation" , mas ressalta o fato de que não pensou nos testes como fator decisivo para a existência ou não de uma implicatura. Antes, sua preocupação era a de que um teste pudesse decidir se uma proposição p, que é, normalmente, parte da total significação do enunciado de uma certa sentença, é uma implicatura não-convencional ou um elemento do sentido convencional da sentença em questão.
Um outro aspecto precário na avaliação dos testes feita por Sadock está no número muito limitado de contra-exemplos e, ainda assim, em contextos demasiadamente favorecidos. A sua conclusão, também, é exageradamente rigorosa para as suas premissas teóricas. A pragmática não depende, em seu rigor e capacidade explicativa, apenas da infalibilidadedos testes de Grice. Além disso, a crítica de Sadock não impede que, ele próprio, em ouros trabalhos, se utilize do conceito de implicatura, reconhecendo, dessa forma, o alcance da eoria de Grice.6
Um trabalho que merece destaque sobre a noção de implicatura é o de Gazdar (1978)
Ao definir a pragmática como o "significado menos as condições-de-verdade", a sua intenção já é sistematizar os fenômenos significativos que devem ser descritos pragmaticamente e conseguir um procedimento formal para essa disciplina ao nível da sintaxe e da semântica.7
O seu trabalho, nesse sentido, destaca-se na reavaliação do modelo de Grice, reformulando as máximas que dificultem, pela obscuridade do texto original, uma formalização rigorosa. Como Gazdar observa, Grice nunca chegou a propor, explicitamente, uma definição de implicatura conversacional, e Thomason (1973) talvez tenha sido umdos primeiros a fazer uma tentativa nesse sentido.8
"Uma sentença F implica converscionalmente Y relativamente a classe C de contextos de enunciados, se para todo c Î C, tal que F s asserções em C não violem as máximas de conversação, Y é presumido em C"
Porém, essa definição é fraca em pelo menos três aspectos, conforme observa Gazdar. Não é bicondicional, não sendo portanto, restritiva à classe de implicaturas conversacionais; não capta todos os tipos de implicatura e, além disso, remete, necessariamente a uma taxonomia de contextos.
Partindo para a reformulação das máximas, Gazdar analisa-as uma por uma. No que se refere à máxima de relevância, por exemplo, ele declara não ter nenhuma contribuição a fazer, tendo em vista que parece não haver nenhum tratamento mais sistemático dessa noção. 9
Quanto a supermáxima "seja claro"e suas quatro máximas, Gazdar oferece algumas sugestões que permitiriam torná-las mais objetivas. A (i), evitar obscuridade de expressão, por exemplo, poderia ser definida como o conjunto de instruções para falantes e ouvintes usarem a intersecção da linguagem de ambos termos de regras sintáticas, semânticas e fonológicas comuns. Destaca ainda, a máxima "seja ordenado", pela qual se pode explicar como dois enunciados podem alterar a sua significação desde que seja trocada a ordem:
(19) Pedro pegou o carro e foi para casa.
(20) Pedro foi para casa e pegou o carro.
Enquanto a primeira sugere que Pedro está indo para casa ou, até, já chegou, a segunda sugere que ele saiu.
No que diz respeito à categoria da qualidade com sua supermáxima "Faça uma contribuição verdadeira" e suas máximas "Não diga o que você acredita ser falso" e "Não diga algo para o qual não possua evidência adequada", Gazdar observa que os conceitos de "verdadeira", "crença" e "evidência adequada" são exatamente os que constituem o problema fundamental do conhecimento e, por isso, exigem reformulação assim:
"Afirme somente i que você conhece" onde conhecer pode ser tomado como primitivo e empregado em lógica epistêmica cuja formulação mais conhecida é a de Hintikka (1962) . Na perspectiva de Gazdar, as implicaturas de qualidade podem, agora, ser formuladas de maneira simples:
O enunciado de A por um falante F implica AS (onde por AS se lê F sabe que A) 10
Este tipo de implicatura, entretanto, não pode ser explicitamente cancelada e, nisso, difere de outra máxima. O problema é análogo ao paradoxo de Moore.
(21) A lingüística é uma ciência {e, mas} eu não sei se ela é uma ciência.
Na própria formulação original de Grice, fica mais claro, ainda, o problema:
"A lingüística é uma ciência mas isto não é verdade, nem eu acredito nisso, nem tenho evidência adequada para propor isto." A relação entre o enunciado de A e o AS é o que Hintikka (1962) chama de implicação epistêmica. Em termos de linguagem natural, existem objeções a este tipo de relação. As pessoas, freqüentemente, não sabem o que dizem. Elas podem, apenas, acreditar no que dizem. Podem, ainda, estar mentindo, não ter evidência, etc. Além disso, podem dizer coisas que não sabem se é, em frases como:
(22) - "Você vai à PUC amanhã."
Eu não sei. Estava perguntando a você.
Para qualquer sentença declarativa F, a asserção de F compromete o falante para SF
É na reformulação da máxima de quantidade que Gazdar atinge o ponto mais significativo de sua colaboração teórica para o modelo de Grice.
Para ele, a tentativa de formalização da máxima de quantidade esbarra em dois problemas fundamentais: Em primeiro lugar, seria preciso ter condições de quantificar informações, e isso não foi conseguido ainda. Além disso, seria necessário ter alguma função que, quando aplicada à conversação, pudesse produzir como seu valor o nível de informação pretendida, e isso, sem a condição anterior também não seria possível.
A solução de Gazdar pode ser tomada como uma ampliação do modelo de Grice quanto a essa máxima.
Os exemplos abaixo são ilustrativos:
(23) Alguns dos deputados foram ao colégio eleitoral.
(24) Nem todos os deputados foram ao colégio eleitoral.
(25) Alguns, de fato todos, os deputados foram ao colégio eleitoral.
(26) Todos os deputados foram ao colégio eleitoral.
(24) é uma implicatura de (23). (25) cancela a implicatura. (26) acarreta (23) mas é inconsistente em relação à implicatura, e este acarretamento não poderia ser cancelado como (25) faz com (24). Não seria possível "Todos os deputados de fato nenhum, foram ao colégio eleitoral." (24), portanto, é uma implicatura cancelável por (25) e diferente de um acarretamento, já que, se (24) fosse acarretado por (23), o fato de (26) acarretar (23), pelo princípio da transitividade nos levaria a aceitar que (26) acarretasse (24), o que é evidentemente falso.
Ao propor uma análise das implicaturas, Gazdar defende o conceito de implicaturas virtuais ou potenciais de quantidade. Chama-as de "im-plicaturas" e define-as como relações entre sentenças. Retomando Horn (1972), Gazdar considera dois tipos de implicaturas de quantidade:
Uma escala desse tipo tem a forma de um conjunto ordenado como e1, e2, e3, ..., en.
Se considerarmos um conjunto de sentenças A, poderemos obter sentenças bem formadas como A(e1), A(e2),etc; onde A(e1) acarreta A(e2), A(e3), etc , mas não vice-versa.
Levinson (1983) sistematiza a regra de derivação de implicaturas escalares.
"Dada uma escala de forma e1, e2, e3,...,en, se um falante afirma A(e2), então ele implica A(e1); se ele afirma A(e3) então ele implica A(e2) e A(e1); se ele afirma A(en), então ele implica A(en-1), A(en-2) e assim por diante, até A(e1)"
Considere-se, por exemplo, a escala todos, alguns.
A sentença (27) "Todos os eleitores votaram em Tancredo Neves" acarreta (28) "Alguns eleitores votaram em Tancredo Neves" e, por isso, se alguém afirma (28) implica (29) "Nem todos votaram ou que alguns não votaram em Tancredo Neves"
Quanto as implicaturas oracionais, podem ser definidas de forma mais simples assim:
"Se F afirma um período complexo p que
(30) Eu acredito que a democracia está assegurada
em vez de
(31) Eu sei que a democracia está assegurada.
eu implico que é possível que ela não seja assegurada. Ao escolher a forma mais fraca para não comprometer com a verdade da oração encaixada eu posso estar implicando que eu não estou em condições de assumir a mais forte e, portanto, a "possibilidade" que a mais forte bloquearia.
Ao afirmar o condicional
(32) Se Maluf ganhar, o Brasil não mudará ( p ® q)
eu implico conversacionalmente que
{ Pp, P~p, Pq, P~q}
Ao optar pela forma "é possível que p" eu implico conversacionalmente "é possível que não p" e também que eu sei que p não é necessário.
Pp +> P~p
Pp +> S ~Np
Ainda dentro desse mesmo modelo de implicaturas, ao optar pela forma "p ou q" eu provoco implicaturas do tipo
{ Pp, P~p, Pq, P~q}
ou, em termos de linguagem natural, a sentença
(33) "Brizola ou Tancredo fizeram um comício ontem" ( p v q )
implica conversacionalmente
(34) "É possível que Brizola tenha feito um comício ontem"
(35) "É possível que Brizola não tenha feito um comício ontem"
(36) "É possível que Tancredo tenha feito um comício ontem"
(37) "É possível que Tancredo não tenha feito um comício ontem"
e se a disjunção não é exclusiva, teríamos ainda
"É possível que Brizola e Tancredo tenham feito um comício ontem"
( p v q ) +> P (p Ù q)
Também ao nível dos operadores modais surge o problema das implicaturas, uma vez que eles
também representam uma ordem de força informativa11.
Considerando-se uma escala < , à> , afirmar à p é implicar que se sabe ~ p ou ainda à ~p. Dizendo de outra maneira,
"Um enunciado de forma à p implica conversacionalmente ~ p e, assim, por equivalência lógica, à ~p."
Ao dizer
(38) É possível que Brizola seja o presidente (à p)
eu implico
(39) Não é necessário que ele não seja ~(~ p )
e por equivalência lógica
(40) É possível que ele não seja ( à ~p )
Essas duas formas de implicaturas são importantes porque dizem respeito a propriedades lingüísticas indiscutíveis. Efetivamente, existe, na língua, uma relação de itens hierarquizados mediante um grau de quantidade de informação.
Dada a importância desse tipo de inferência, sistematizemos uma lista mais exaustiva de exemplos para o português.
< todos, muitos, alguns, poucos >
< e, ou >
<n, 5,4,3,2,1 >
< ótimo, bom >
< sempre, freqüentemente, algumas vezes >
< necessariamente p, p, possivelmente p >
< amar, gostar >
Pares de construções similares podem ser usados nas sentenças complexas:
< ( p e q ), ( p ou q ) >
< ( Já que p, q), ( se p, então q ) >
< (A sabe que p), ( A acredita que p) >
Exemplifiquemos:
(41) p: A democracia é sempre desejável.
q: A democracia é desejável algumas vezes.
p||- q
q +> ~p
a2) < 5,3 >
(42) p: Figueiredo governou 5 anos.
q: Figueiredo governou 3 anos.
p ||- q
q + > ~p
a3) < obrigatoriamente, provavelmente >
(43) p: O governo mudará obrigatoriamente.
q: Provavelmente o governo mudará.
p ||- q
q +> ~p oracionais
b1) < ( A sabe que p), ( A acredita que p) >
(44) e: O povo sabe que o governo mudará.
f: O povo acredita que o governo mudará.
e ||- f
f + > ~f
b2) < ( é necessário que p), (é possível que p) >
(45) e: É necessário que o povo vote.
f: É possível que o povo vote.
e ||- f
f +> ~e
A leitura que Gazdar faz da teoria de Grice é, indiscutivelmente, importante. Grice, no seu texto original (1967/75), propôs o princípio da cooperação e as máximas, sem examinar, mais detidamente, todas as implicações lógico-teóricas que seus conceitos provocariam. A tentativa de Gazdar é feita no sentido de permitir que o sistema griceano se torne mais forte em dois aspectos básicos:
Do ponto de vista metateórico, é importante registrar, também, a contribuição do trabalho de Gazdar. Desde Kuhn (1962), sabe-se que um programa de pesquisa constitui-se num paradigma que determina a evolução da ciência dita normal. Sabe-se, também, que, mesmo resolvendo inúmeros problemas, uma teoria enfrenta contra-exemplos levantados, justamente, na tentativa de refutá-la. Popper (1963), alias, distingue o conhecimento científico do metafísico exatamente por essa propriedade que ele, científico, possui de poder ser refutado. Popper, inclusive, institucionaliza a tarefa da refutação, dando a ela o principal mérito da história da ciência.13 Até aqui, o programa de Grice não poderia ter sido mais bem sucedido. Seu núcleo teórico resolve fenômenos que nenhum outro pode resolver, ou seja, "como é possível um enunciado significar mais do o que diz", e, além disso, para não decepcionar a epistemologia popperiana, é refutável. Kuhn, entretanto, diverge de Popper, e admite a manutenção de um paradigma, como uma tarefa rotineira da fase normal da ciência. É nesse sentido que se valoriza o texto de Gazdar e que se procura entendê-lo. Considerando-se dentro do programa de Grice, ele faz, através da reformulação das máximas e da inserção de novos conceitos teóricos, a ampliação do paradigma griceano e a proteção do seu núcleo teórico.14
Ainda no sentido de verificar a potencialidade teórica do modelo griceano, Karttunen e Peters (1979) tentam demonstrar que o conceito de pressuposição abriga fenômenos heterogêneos e que muitos deles podem ser reduzidos à noção de implicatura em suas variedades. 15
Nos textos clássicos, Frege (1892), Russel (1905), Strawson (1950) a pressuposição aparece de maneira um tanto difusa. Não há, neles, uma definição clara das questões semânticas e pragmáticas e isso tem gerado uma polêmica que ainda hoje se reproduz nos textos de Kripke (1977) e Donnellan (1977) 16.
Keenan (1971) foi um dos primeiros a chamar a atenção para a possibilidade de uma diferença entre pressuposição, semântica e pragmática. Para ele, a pressuposição lógica é a que surge da relação entre uma sentença e o mundo a que ela se refere, de acordo com as intuições de Frege e Strawson.
(p) pressupõe (q) se e somente se a verdade de (q) é necessária para que (p) possa ser verdadeira ou falsa. Já a pressuposição pragmática é a que envolve a relação entre declaração da sentença e o contexto no qual ela é enunciada.17.
Stalnaker (1972-1974) e Gazdar (1979) também buscam definições pragmáticas para a pressuposição, abrindo caminho para as tendências mais modernas que abandonam, pouco a pouco, o tratamento semântico desse tipo de fenômeno. 18
É dentro, portanto, dessa linha que Karttunen e Peters trabalham esse conceito e o encaixam no modelo de Montague. 19
Para eles, a literatura sobre o assunto vem chamando de "pressuposição", fenômenos lingüísticos multiformes. Na análise , por exemplo, dos chamados condicionais contrafactuais, Karttunen e Peters levantam situações em que a pressuposição contrafactiva aparece, claramente, como implicatura conversacional particularizada. Ela é uma inferência, nesse caso, que envolve
(46) Se o presidente Figueiredo fosse civil, ele não seria o presidente agora.
É verdade que o ouvinte, na maioria das vezes, é levado a creditar que a oração antecedente é falsa. Não é correto, entretanto, que se julgue que a pressuposição desse tipo de sentença pode ser inferida dados apenas as condições semânticas típicas desses condicionais.
No caso da sentença (46), o falante compromete-se com a falsidade da oração antecedente, pelo simples fato de que a oração conseqüente é evidentemente falsa. O falante sabe que o ouvinte sabe que Figueiredo é o presidente agora.
Além disso, uma regra geral das construções do subjuntivo condicional que afirmasse que, nelas, existe pressuposição de que a oração subordinada é falsa, poderia ser facilmente falseada mediante contra exemplos como os seguintes:
(47) Se o Brasil estivesse em crise econômica, o índice de inflação seria cada vez maior como, de fato, é.
Nesse caso, a oração conseqüente é evidentemente verdadeira e a antecedente passa a ser, então, verdadeira.
(48) Se Jânio Quadros tivesse renunciado pela pressão dos militares, isso estaria registrado no seu diário pessoal que está no palácio.
Para que se veja em (48), a dependência do contexto, basta que se considere dois tipos de situação:
Esses casos demonstram, então, a pressuposição como implicatura conversacional particularizada. O cancelamento desse tipo de pressuposição também é claramente demonstrável.
(49) Se as eleições diretas fossem para 1985, a abertura política seria essa que estamos constatando. Mas nós sabemos que as eleições diretas só vão ocorrer em 1988.
Ainda dentro da análise de Karttunen e Peters, seria possível generalizar uma diferença entre o modo indicativo e o subjuntivo.
Modo Subjuntivo - É epistemicamente possível que ~A
(50) Se Tancredo fosse revolucionário, ele faria uma reforma agrária.
Modo Indicativo - É epistemicamente possível que A
(51) Se Tancredo for revolucionário, ela fará uma reforma agrária.
Passemos agora, a um outro tipo de sentença, onde as pressuposições podem ser explicadas em termos de
(52) Brizola criticou o PMDB por ter proposto a Frente Liberal.
De acordo com Fillmore, uma pessoa que afirme o enunciado (52) pressupõe
(53) O PMDB propôs a Frente Liberal.
Basta que se veja que a negação
(54) Brizola não criticou o PMDB por ter proposto a Frente Liberal.
de (52) também pressupõe (53). Mesmo aqui, a pressuposição não está tão presa a sentença que não possa ser cancelada, como em (55):
(55) Brizola criticou o PMDB por ter proposto a Frente Liberal, mas ele foi injusto porque ela foi proposta pelo PDS.
Além da cancelabilidade, a não-destacabilidade desse tipo de inferência (ela ocorreria em outros verbos como "condenar", "julgar" e outros, que são chamados coletivamente "verbos de julgamento") levam-na a ser considerada como implicatura conversacional generalizada já que não depende de um contexto particular.
Consideremos, finalmente, um terceiro caso de pressuposição, em especial aquela que parece ser determinada pelo léxico.
Em enunciados como
(56) Até o burgueses querem mudar o governo
O elemento "até" parece não ter nenhuma influência sobre as condições-de-verdade.
(57) Os burgueses querem mudar o governo
apresenta as mesmas condições.
O sentido, entretanto, não é o mesmo, já que (56) pressupõe
(58) a) outras pessoas também querem mudar
(58) b) os burgueses seriam os menos indicados para querer mudar
Nesse caso, (58) não está dito em (56), mas implicado no sentido de Grice. Esse tipo de implicatura, entretanto, não depende de princípios conversacionais, mas decorre da significação da palavra "até". Isso permite, então, que esse tipo de pressuposição seja tratada como implicatura convencional. Ela pode ser explicada em termos de considerações semânticas sobre as condições-de-verdade, e pragmáticas sobre a significação extra-literal do item lexical.
Tendo em vista que se trata de um problema muito delicado, demonstraremos a propriedades da análise de Karttunen e Peters com uma lista mais sistemática de exemplos em português.
1 Pressuposições com Implicaturas Convencionais
(59) (A) Só o povo decidiu a eleição
(59) (B) O povo decidiu a eleição.
(D) nenhuma outra decidiu
Essas pressuposições (C) e (D) podem ser consideradas implicaturas convencionais, à medida que partem do sentido da expressão "só" e não fazem parte do dito.
(60) (A) O próprio professor parou de falar
(60) (B) O professor parou de falar.
A expressão "próprio" de (A), porém, provoca pressuposições como
(D) outras pessoas pararam de falar
(E) o professor era o menos provável para parar de falar
que são, então, implicaturas convencionais de "próprio"
2 - Pressuposições como Implicaturas Conversacionais Generalizadas
(61) (A) O professor censurou o aluno por ter colado
(61) (B) O aluno colou
(A)(B)ou seja (A) + (B)20
O verbo censurar parece exigir condições preparatórias que determinem, pragmaticamente, que só é possível censurar algo que, realmente, tenha ocorrido. "O aluno tem que ter colado" para que alguém possa censurá-lo por isso. Além disso, se alguém proferisse (A) estaria implicando saber que o aluno colou, caso contrário, revelaria um desrespeito ao princípio da cooperação, no que se refere a máxima de qualidade.
Observa-se, também, a facilidade com que se poderia cancelar essa implicatura.
(62) O professor censurou o aluno por ter colado, mas ele cometeu uma injustiça: o aluno simplesmente tinha decorado tudo.
(63) A) João continuou no poder.
(63) B) João estava no poder.
Aqui, é o verbo continuar que exige condições preparatórias de adequação. Só é possível continuar, se já estava no poder.
(64) A) Feche a porta.
(64) B) A porta estava aberta.
(A)(B)ou seja (A) + (B)
Esse tipo de ordem também exige condições de adequação.
3 Pressuposições como Implicaturas Conversacionais Particularizadas
(65) A) Se estivéssemos com fome, estaríamos lanchando agora.
(65) B) Não estamos com fome.
(A)(B)ou seja (A) + (B), tendo em vista que o ouvinte pode inferir que o falante implicou que eles não estão com fome, à medida que ele, falante, sabe que o ouvinte sabe que eles não estão agora lanchando.
Aqui, o conhecimento do contexto é que torna possível esta implicatura, que se chama, então, particularizada. O elemento indicial "agora" explicita, claramente, a presença do contexto.
(66) Se foi um acidente por culpa do piloto, ficou registrado na caixa negra.
Nesse caso, o falante não permite a implicatura sobre a verdade ou falsidade da sentença condicional, tendo em vista que a conseqüente é uma possibilidade especulativa. Aqui, então, (A) pressupõe ou implica: "Pode ter sido ou não culpa do piloto".
(67) Se o nosso time estivesse ganhando, estaríamos ouvindo foguetes como realmente estamos.
(67) agora, pressupõe ou implica que a oração antecedente é verdadeira, tendo em vista que a afirmação da conseqüente como verdadeira , obriga a implicatura já assinalada.
Essas pressuposições reduzidas a implicaturas representam uma tentativa de incluir esse tipo de inferência tão problemática ao alcance do modelo de Grice. De qualquer maneira, apesar da complexidade do problema, as teorias semânticas sobre pressuposição estão sendo abandonadas em favor de teorias pragmáticas, como bem observou Levinson (1983). Condições de adequação e conhecimento mútuo parecem ser dois instrumentos bastante usados para as definições pragmáticas de pressuposição.
Não é por outra razão, aliás, que o próprio Grice (1981) sugere a possibilidade de um tratamento das pressuposições como implicaturas.
Como em outras situações teóricas complexas, o modelo pragmático de Grice parece ajustar-se, perfeitamente, à necessidade de simplificar conceitos que problematizam a semântica.
É exatamente, nesse sentido, que valorizamos a tentativa de Karttunen e Peters (1979) e a reconhecemos válida em nosso modelo ampliado.
Mais uma vez, é justo que se observe que a pragmática e a semântica parecem complementar-se na abordagem desses fenômenos cujo caráter obscuro dificulta a proposta teórica que se pretende rigorosa.
Cabe, finalmente, discutir uma das raras tentativas de crítica ao modelo de Grice, acompanhada de uma proposta nova.
Ao moverem um ataque contra o conceito de "conhecimento mútuo", denunciando-o como não necessário, nem suficiente para o contexto, Sperber e Wilson (1982) desenvolvem um modelo pragmático alternativo ao de Grice (1975) em que a supermáxima, a de relevância, passa a ser uma espécie de princípio geral de toda a conversação para que inferências pragmáticas possam ser compreendidas.21
Para eles, o sistema de Grice deve ser reavaliado, uma vez que se apresenta, originalmente, muito vago e flexível.
Inicialmente, Sperber e Wilson defendem a idéia de que, na conversação real, os interlocutores não ficam fazendo exercícios de inferências lógicas possíveis. Dadas duas premissas 'p' e 'q', conclusões como 'p' e 'p', 'p' e 'q', 'q' e 'q', 'p' ou 'p', 'p' ou 'q', 'q' ou 'q', etc., podem ser derivadas em manuais escolares de lógica, mas não representam nenhum interesse para o diálogo comum das pessoas. Ao invés disso, elas se concentram em inferências de deduções não-triviais. 22
No exemplo abaixo, dentro de um contexto C
(68) a) Democracia é eleição direta.
(68) b) Maluf é do PDS.
(68) c) O PDS não quer eleição direta.
(68) d) O PDS e Maluf não são democráticos.
Se (A) diz abc, (B) infere d que é o que interessa no contexto C.
Isto quer dizer, em última análise, que uma teoria pragmática que procure apreender os dados significativos e inerentes à linguagem natural não pode permanecer, apenas, no âmbito das inferências decorrentes dos sistemas dedutivos do tipo "standard", devendo buscar um modelo de lógica alternativa, em que se possa, ao mesmo tempo, tratar de inferências interessantes como as de Grice, mas numa perspectiva dedutiva mais rigorosa.
O modelo alternativo de Sperber e Wilson propõe então, um sistema de inferências não-triviais, baseado no princípio de relevância, como implicações contextuais, derivadas da relação entre enunciado e o contexto. A derivação não poderá ser feita nem do enunciado sozinho, nem do contexto, isoladamente, mas do jogo de ambos no ato comunicativo. O exemplo abaixo é ilustrativo.
(69) A) Você não quer comprar um título do Inter?
(69) B) Não, obrigado, aos domingos, eu vou sempre para o meu sítio.
(69) parece ser de difícil compreensão. Entretanto, dado o contexto (70), a conclusão (71) surge como uma Implicação Contextual de (69) no contexto (70):
(70) a - O sítio de B está fora do roteiro dos jogos.
b - Comprar um título corresponde a ser sócio do Inter.
c - Sócio do Inter pode assistir jogos por menor preço.
d - Os jogos são, normalmente, aos domingos.
e - Quem vai ao sítio todos os domingos não pode assistir aos jogos.
f - Quem não pode assistir aos jogos não tem interesse em ser sócio.
(71) O falante de (69) (B) não pode ser considerado um interessado em comprar títulos do Inter.
O importante, aqui, é observar que a implicação contextual é derivada por meio de uma lógica não-trivial em que a relevância da resposta só pode ser constatada mediante as operações dedutivas que levam de (69) e (70) a (71).
Sperber e Wilson tratam da relevância como um princípio que se manifesta em diversos graus. Assim, será necessário avaliar a relação entre a quantidade de processos e as implicações contextuais para se ter o grau de relevância. 23
Entre dois enunciados, por exemplo, com a mesma quantidade de processos ou operações, o mais relevante será o que tiver o mais implicações contextuais; por outro lado, entre enunciados com o mesmo número de implicações contextuais, o mais relevante será o que tiver a menor quantidade de operações.
Como se disse antes, a proposta de Sperber e Wilson parece ser realmente, uma tentativa de substituir o modelo griceano, mediante o conceito de implicação contextual, permitindo através de um princípio geral em que os interlocutores buscam a maior relevância possível para o enunciado.
Após a discussão dessa proposta alternativa e das críticas e sugestões de Sadock (1978), Gazdar (1979), Karttunen e Peters (1975) e Levinson (1983), passa a ser necessário em nosso trabalho uma nova contribuição no sentido ou de refutar ou de ampliar o modelo de Grice. Como acreditamos que a sua potencialidade teórica ainda não foi esgotada, optamos por ampliá-lo.
1 - S. Levinson, Pragmatics, 1983, pp 97-166
3 - A obra de Levinson tem, na verdade, um caráter didático. Sua pretensão é de apresentar as teorias pragmáticas contemporâneas, mais do que propor inovações teóricas. Nesse sentido cumpre, admiravelmente, sua função.
4 - J. M. Sadock, On Testing For Converstional Implicature, p.284
5 - A. P. Grice. Further Notes on Logic and Conversation, p.115
6 - cfe. o artigo "Almost" de Sadock (1981)
7 - G. Gazdar. Pragmatics - Implicature, Presupposition and Logical Form. p.11
8 - G. Gazdar se refere aqui, à obra de Thomason (1973) - Semantics, Pragmatics, Conversation and Presupposition.
9 - G. Gazdar, op. cit., p. 45
11- Os operadores são tomados aqui à semelhança de Kripke (1969)
12- cfe. observação de J. McCawley, Everything that Linguists have always want to know about logic - but were ashamed to ask, p.219
13- K. Popper, A Lógica da Investigação Científica, p.41
14- T. Kuhn observa, a propósito da ampliação que ela busca resolver problemas que um paradigma enfrenta na fase normal. Segundo ele, um paradigma só é abandonado se surgir outro para substituí-lo.
15- cfe. Karttunen e Peters, Conventional Implicature, p.2
16- Frege (1892) foi, talvez, o primeiro teórico a tratar da pressuposição. No seu exemplo original, a sentença
Kepler morreu na miséria
pressupõe que Kepler designa alguém. Ele mesmo observou que tanto a sentença quanto a sua negação apresentam a pressuposição de existência de Kepler:
Frege, no entanto, referia-se à pressuposição de maneira um tanto obscura. Ao longo do seu artigo sobre o sentido e a referência, ele sugere pressuposições a partir do falante, do uso de sentenças (enunciados) e de sentenças propriamente ditas.
Russel, mais tarde (1905), discorda de Frege e desenvolve a sua conhecida "teoria das descrições"como uma solução para os problemas que surgem quando uma sentença significa, mesmo não tendo o seu referente existência garantida.
No exemplo clássico:
O rei da França é calvo.
segundo Russel
Strawson (1950), num artigo bastante conhecido, nega a posição de Russel, afirmando que ele não distinguiu, como deveria, sentença de uso da sentença. Para Strawson, sentenças não podem ser verdadeiras ou falsas; enunciados, sim.
Uma sentença como
Ele está em casa.
não é verdadeira nem falsa, mas, se eu a profiro numa determinada circunstância em que "ele" faça referência a um indivíduo determinado, aí, então, eu formulei um enunciado e este sim, é verdadeiro ou falso.
A partir daí, Strawson defende a diferença entre asserção e pressuposição. A pressuposição é um tipo especial de pré-condição para a constituição de um enunciado. A sentença
só será um enunciado verdadeiro ou falso se existe a entidade de quem se diz algo. Em outras palavras, (1) só é verdadeira ou falsa se
Para Strawson, a asserção só terá valor-verdade se a pressuposição for verdadeira. De maneira mais formal, é possível dizer que um enunciado p pressupõe outro enunciado q sse:
p ® q
~p ® q
A discussão Russel-Strawson ainda hoje, quase sessenta anos depois, é motivo para inúmeros textos.
17- Por enunciado, Keenan entende um acontecimento lingüístico no espaço e no tempo; por contexto, os indivíduos que participam do acontecimento bem como o conjunto de condições físicas e culturais do referido ato.
18- Stalnaker distingue a pressuposição semântica da pragmática. Para ele, a pressuposição pode ser encarada ao nível da proposição, enquanto manifestação puramente lingüística, ou ao nível da proposição enquanto atitude comunicativa de um falante (F). No primeiro caso, trata-se de um fenômeno semântico; no segundo, de um pragmático. O conjunto de todas as pressuposições feitas por uma pessoa, num dado contexto, determina uma classe de mundos possíveis. Segundo Caton (1981), a melhor definição de pressuposição pragmática em Stalnaker seria esta:
"Um falante pressupõe pragmaticamente que p declarando que q pela afirmação e em certo contexto quando, no caso
21- D. Sperber e D. Wilson, Theories of Comprehension, p. 75
23- A noção de quantidade de processos em Sperber e Wilson refere-se a uma função de tempo e grau de atenção despendida.