(...)
O
meio é a mensagem porque é o meio que configura
e controla a proporção e a forma das ações e
associações humanas. O conteúdo ou usos desses
meios são tão diversos quão ineficazes na
estruturação da forma das associações humanas.
Na verdade não deixa de ser bastante típico que
o “conteúdo” de qualquer meio nos cegue para a
natureza desse mesmo meio.
(...)
Alexis
de Tocqueville foi o primeiro a dominar a
gramática da imprensa e da tipografia.
Capacitou-se assim a decifrar a mensagem das
mudanças iminentes na França e na América, como
se estivesse lendo em voz alta um texto que lhe
tivessem passado às mãos. De fato, o século XIX,
na França e na América, se apresentava como um
livro aberto a Tocqueville, pois havia aprendido
a gramática da imprensa. E sabia também quando a
gramática não funcionava. (...) De Tocqueville
era um aristocrata altamente letrado, mas
perfeitamente capaz de desligar-se de valores e
pressupostos da tipografia. E é somente assim,
permanecendo à margem de qualquer estrutura ou
meio, que os seus princípios e linhas de força
podem ser percebidos. Pois os meios têm o poder
de impor seus pressupostos e sua própria adoção
aos incautos. A predição e o controle consistem
em evitar este estado subliminar de transe
narcísico.
(...)
O
homem de uma sociedade letrada e homogeneizada
já não é sensível à diversa e descontínua vida
das formas. Ele adquire a ilusão da terceira
dimensão e do “ponto de vista pessoal”como parte
de sua fixação narcísica, excluindo-se assim da
consciência de um Blake ou do Salmista, para os
quais nós nos transformamos naquilo que
contemplamos.
(...)
As
reservas espirituais e culturais que os povos
orientais possam ter em relação à nossa
tecnologia não lhes poderão valer muito. Os
efeitos da tecnologia não ocorrem aos níveis das
opiniões e dos conceitos: eles se manifestam nas
relações entre os sentidos e nas estruturas da
percepção, num passo firme e sem qualquer
resistência. O artista sério é a única pessoa
capaz de enfrentar, impune, a tecnologia,
justamente porque ele é um perito nas mudanças
de percepção.
(...)
Hoje
, se quisermos estabelecer os marcos de nossa
própria cultura, permanecendo à margem das
tendências e pressões exercidas por qualquer
forma técnica de expressão humana, basta que
visitemos uma sociedade onde uma certa forma
particular ainda não foi sentida ou um período
histórico onde ela ainda era desconhecida. O
Prof. Wilbur Schram efetuou essa manobra tácita,
ao estudar a Television in the Lives of our
Children (“A Televisão na Vida de Nossas
Crianças”). Encontrou áreas onde a televisão
ainda não havia penetrado o suficiente e efetuou
alguns testes. Como não havia feito nenhum
estudo sobre a natureza especifica da imagem
televisiva, seus testes versaram sobre
preferências de “conteúdo”, tempo de exposição
ao vídeo e levantamentos de vocabulário. Numa
palavra, sua abordagem do problema foi puramente
literária, embora inconsciente. Em
conseqüência, não teve nada a relatar. (...)
A Análise de programas e “conteúdos” não oferece
pistas para a magia desses meios ou sua carga
subliminar.
(...)
O
Papa Pio XII preocupava-se profundamente com o
desenvolvimento de estudos sérios sobre os
atuais meios de comunicação. Dizia ele, em 17 de
fevereiro de 1950:
“Não
é um exagero dizer-se que o futuro da sociedade
moderna, bem como da estabilidade de sua vida
interior, dependem em grande parte da manutenção
de um equilíbrio entre a força das técnicas de
comunicação e a capacidade de reação do
indivíduo.”
Durante
séculos, o fracasso da Humanidade a esse
respeito tem sido característico e total. A
aceitação dócil e subliminar do impacto causado
pelos meios transformou-os em prisões sem
muros para seus
usuários.
(...)
"Para a nova era dessa civilização que
está indiscutìvelmente a anunciar-se, ler e
procurar penetrar o difícil, novo e original
pensamento de McLuhan não é apenas um raro e
alto prazer, mas dever e necessidade de cada um
de nós que sofremos as perplexidades e
incertezas da imensa transição." (Anísio Teixeira)
Veja
dois textos do Educador Brasileiro Anísio
Teixeria sobre o pensamento de McLuhan: Apresentação do livro "A Galáxia
de Gutenberg" O Pensamento Precursor de
McLuhan
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